A mudança do perfil das pessoas acometidas pela forma grave da Covid-19 levou a cidade de São Paulo a mudar a estratégia de combate à doença: agora, a orientação é buscar uma Unidade de Saúde assim que aparecerem os sintomas de infecção.
Aumentam casos graves do novo coronavírus entre jovens. |
A alteração de protocolo na capital paulista se deve a três fatores: os pacientes graves se tornaram mais jovens – a maioria tem entre 20 e 54 anos; o agravamento da doença está sendo mais rápido e repentino e o tempo de internação dos pacientes está aumentando. Segundo Edson Aparecido, Secretário Municipal de Saúde da capital paulista, a decisão levou em conta duas hipóteses, a serem confirmadas em breve: a doença estaria se agravando mais rápido e se tornando mais letal.
Informações do governo de São Paulo dão conta de que antes, 80% dos internados em estado grave eram idosos, enquanto hoje 60% do contingente de internações se dá entre pessoas de 30 a 50 anos. Médicos e pesquisadores acreditam que a culpa é da variante P. 1, que demonstrou ser até 2,4 vezes mais transmissível que outras linhagens do vírus em estudo internacional recente publicado na revista Science, com participação do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
A culpa é mesmo da P.1?
A variante P.1 possui mutações nos genes que codificam a espícula – proteína que permite a entrada do vírus Sars-Cov-2 nas células –, facilitando a infecção. Atualmente, estima-se que 80% dos casos na grande São Paulo sejam decorrentes dessa variante.
Um estudo da Fiocruz, realizado em fevereiro de 2021, aponta que adultos acometidos pela Covid-19 causada pela variante P.1 têm carga viral até dez vezes maior do que os que carregam a versão original do vírus – o que não quer dizer necessariamente aumento na gravidade dos casos, mas em teoria, pode aumentar a transmissibilidade da doença, segundo o virologista José Eduardo Levi, participante do estudo internacional, em entrevista recente à BBC.
Atendimento precoce ajuda?
Até o momento, estudos científicos demonstraram que não há tratamento precoce eficaz para o novo coronavírus. Segundo o Secretário Municipal de Saúde de São Paulo, o atendimento precoce adotado na capital tem outros dois motivos: oferecer tratamento antes que seja tarde demais e gerenciar melhor a oferta de leitos, evitando o colapso do sistema de saúde.
Segundo a Secretaria, os leitos de UTI da capital subiram durante a pandemia de 575 para 1.430 e os de enfermaria foram de 2.000 para 3.600. Ainda assim, atualmente São Paulo está com 88% dos leitos ocupados, enquanto a média de tempo de internação subiu de sete a dez dias para em torno de 14 a 17 dias.
Maioria dos internados em São Paulo têm entre 20 e 54 anos. |
Para Suzana Lobo, diretora-presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), o sistema de saúde da maioria das cidades brasileiras não tem condições de replicar o modelo proposto atualmente pela capital paulista. Recentemente a associação levantou dados de quase metade dos 55 mil leitos de UTI do Brasil e verificou 40% de aumento do procedimento de intubação, além do aumento de 17% na internação de pacientes até 40 anos em UTIs. “Eu não acredito que quem tem sintoma vai conseguir atendimento médico, porque é muita gente. Muita gente. Como é que todo mundo que tem sintoma no Brasil vai conseguir um médico hoje? Não sei se há capacidade do sistema para isso", diz Lobo, diretora-presidente da Amib.
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