Review: Cyberpunk 2077 não revoluciona, mas aprimora tudo até o talo

Mais de oito anos de desenvolvimento, muito dinheiro investido, Keanu Reeves, marketing a todo vapor e a promessa de ser um RPG extremamente ambicioso: as expectativas de Cyberpunk 2077 não eram baixas e o hype decolava a cada novo material divulgado – e também balançava os fãs a cada novo adiamento.
Cyberpunk 2077 - Judy Alvarez

Agora, ele finalmente está entre nós. Em um mercado que cada vez mais parece copiar e colar, criar experiências pasteurizadas, copiadas e coladas à exaustão, copiar fórmulas anualmente e sempre prezar por microtransações ou jogos como serviço, é até esquisito quando uma empresa investe no lado oposto.

Mas será que Cyberpunk está à altura da promessa que criou? Talvez sim e até um pouco mais. O game não revoluciona nada, mas aprimora ao limite tudo que já vimos até hoje. Confira a nossa análise de Cyberpunk 2077!

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Um dos RPGs mais completos já feitos: quase um RPG de mesa

Para aqueles que não estão familiarizados, Cyberpunk tem raízes mais antigas do que o jogo digital: tudo começou com Cyberpunk 2013, um RPG de mesa muito famoso criado por Mike Pondsmith. Honrando o legado de suas origens, 2077 aplica camadas e mais camadas de customização, atributos e tudo que você pode esperar em um RPG de papel – mas mesclado perfeitamente com um dos melhores jogos de ação que já vimos por aí.

É real: nenhum RPG conseguiu mesclar ação e profundidade tão bem quanto Cyberpunk 2077. Essa é, sem dúvidas, a forma mais real de ter um RPG de mesa interativo já feita. Mas aí é que vem a parte legal: ao mesmo tempo que o game consegue oferecer mecânicas profundas que vão brilhar os olhos dos fãs, também pode ser acessível suficiente para quem quiser jogar como um jogo de mundo aberto cheio de atividades e combate de primeira.

A escolha é sua: do começo ao fim, liberdade é uma palavra-chave que você vai sentir a todo momento. Você joga como quer, cria a história que quer e resolve todos os seus problemas da maneira que achar melhor. Claro, há limitações técnicas que um jogo digital não supera o de papel: não é possível ser um policial ou fazer parte da Trauma Team, por exemplo.

Desde o começo, você pode escolher o estilo de V, protagonista que pode ser homem ou mulher: da aparência nos detalhes mais minuciosos, que vão da cor dos olhos às partes íntimas (homem e mulher podem ter vozes masculinas ou femininas, pênis ou vagina, e por aí vai), até os Rumos de Vida, que podem ser Nômade, Marginal ou Corporativo, mudando drasticamente o início da campanha, suas especialidades, o conhecimento do mundo e os relacionamentos com diversos personagens. Segundo a CD Projekt Red, há NPCs e missões exclusivos de cada Caminho de Vida.

Eu fiz o teste de refazer diversas missões e ver diferentes formas de resolvê-la na prática. Furtividade e hacking? Pode apostar que dá certo. Resolver a sua treta na bala desde o começo? Desafiador, mas você decide. Comprar implantes cibernéticos para ter pulo duplo e acessar o local por escaladas? Com certeza! Tentar resolver na conversa? Às vezes dá certo. E que tal usar o seu pano de fundo de Marginal para abrir escolhas únicas da sua campanha? Também é possível. Até mesmo usar dinheiro é uma opção.

Isso vai depender também da forma que você constrói V. As possibilidades estão lá, mas você precisa bancar o estilo que deseja, investindo nos atributos certos, nas especializações de classes corretas e nos equipamentos adequados. Caso não tenha a habilidade necessária para abrir um terminal digital ou coletar evidências de um computador, terá que se virar de outra forma – e SEMPRE dá para fazer as coisas de formas distintas.

De uma forma bizarra, tudo que eu pensava enquanto jogava era como eu faria diferente quando jogar pela segunda vez. A impressão é que Cyberpunk 2077 é facilmente um título com um dos maiores fatores de replay que vimos nos últimos anos, fazendo o jogador zerar tudo de novo só para ver diferentes rumos.

Cada missão será consideravelmente diferente para cada jogador, não só pela história que seguiu ou consequências que terá no futuro, mas também pelo escopo do game design. É realmente impressionante a liberdade que Cyberpunk 2077 oferece ao jogador, criando um dos gameplays mais únicos já vistos em um mundo aberto.

A CDPR conseguiu evoluir o que já beirava a perfeição em The Witcher 3: a narrativa do mundo

A CD Projekt Red ganhou uma explosão de notoriedade em 2015 após o grande sucesso de The Witcher 3, uma franquia até então bem nichada de um estúdio em ascensão na Polônia. Com poucos recursos, a desenvolvedora provou que conseguiu de certa forma revolucionar um velho gênero que já parecia não ter grandes novidades. Além de entregar uma experiência AAA digna de qualquer grande estúdio, a companhia provou que uma boa história, até nas experiências secundárias, pode ser o melhor de um jogo. Com Cyberpunk 2077 as coisas não podiam ser diferentes. Bom, na verdade, são: porque são muito melhores.

A história do game gira entorno de V e suas ações como mercenária, que um dia consegue um grande trabalho que vai render grana para uma aposentadoria. Como você deve imaginar, os riscos também eram altos e as coisas não ocorrem de acordo com o planejado, terminando com você tendo que recomeçar a vida, mas agora com Johnny Silverhand na sua cabeça, que pode atuar tanto como um parceiro quanto como alguém que serve para infernizar a sua vida.

Há diversas abordagens no tema do game, desde o conceito de espiritualidade e alma, críticas ao sistema capitalista e problematizações chiques, definições de consciência e muito, muito mais. Pode esperar também por relacionamentos afetivos, para os fãs de casais amorosos.

Vou evitar entrar em detalhes para evitar spoilers, mas pode ter certeza de que o marketing do jogo enganou os jogadores (de uma forma boa) em relação a trama. Há muitos plot twists logo no começo do game, diversas missões principais que divergem caminhos e personagens que podem se envolver, incluindo alguns que mudam como você pode terminar o jogo.

Para termos de comparação, Cyberpunk 2077 consegue deixar títulos focados em narrativa, como Telltale’s The Walking Dead e Life is Strange, comendo poeira nos resultados das suas escolhas. Tudo importa e tudo tem, de certa forma, um impacto. Vi resultados das minhas ações se desdobrarem 45 horas depois de uma quest, algo que, para mim, é simplesmente genial.

Algumas sidequests têm mais impacto narrativo no mundo e desenrolar da história do que jogos focados em narrativa

Assim como no gameplay, fiz testes de terminar as missões de formas diferentes: uma mesma missão pode acabar de três, até quatro formas distintas, e isso tem consequências no mundo. Personagens podem morrer, outros podem se vingar por isso, missões podem não aparecer, contratos podem não surgir. É muito interessante como tudo funciona e ver como o mundo reage a isso.

Tudo, absolutamente tudo do jogo, envolve uma boa narrativa. De atividades diversas como lutas de rua ou corridas ilegais, tudo tem doses homéricas de história. Para termos de comparação, o jogo tem mais palavras de narrativa que toda a trilogia de O Senhor dos Anéis mais O Hobbit, 466 horas de gravação de diálogos e mais de 73 mil linhas de diálogos (sendo que dessas todas, há quase 8 mil escolhas nas conversas).

Apesar de quantidade não ser sinônimo de qualidade, aqui é sim. Todo o conteúdo que experimentei nas mais de 70 horas de jogo foram espetaculares, com mais dezenas, talvez uma centena de horas para ver mais dos acontecimentos de Night City. Para os amantes de uma boa narrativa, podem se preparar para jogar muito.

Inclusive, espere por bastante referências de cultura pop, como Matrix, Máquina Mortífera, Akira, JoJo, Sailor Moon e muito mais. Até mesmo Kojima e Death Stranding estão no jogo.

Combate primoroso de dar inveja (até certo ponto)

O que seria de um grande RPG sem um combate que corresponda à qualidade dos demais elementos? E até aqui a CD Projekt Red acertou com maestria. Cyberpunk 2077 é um shooter tão bom ou até melhor do que muitos outros, e não há nada com o que se preocupar.

O mais bacana é que mesmo em primeira pessoa você tem coberturas à sua disposição: basta se agachar atrás de um muro ou no canto de uma parede e apertar o botão de mira para que V se incline levemente para atirar. Somente esse fator já traz vantagem a muitos games de tiro por aí. Mas é possível ir além.

Existem três tipos de armas: Tecnologia, capaz de carregar tiros e atravessar todas as paredes, Inteligente, com balas que rastreiam o alvo, e Energia, que com balas que podem ricochetear em superfícies. Entretanto, essa é somente uma das camadas. Cada arma pode ser customizada com acessórios, como miras e silenciadores, ou chips que mudam o comportamento da ferramenta, aumentando dano crítico, tornando os tiros não letais e por aí vai.

Caso seu estilo seja o corpo a corpo, há opções de monte. Desviar e atacar com armas brancas ou com o próprio punho funciona razoavelmente bem, com mecânicas de esquivas perfeitas, parry e muito mais. Esse é, sem dúvidas, um dos pontos fracos do game. Não é ruim e armas brancas são muito boas, mas as lutas aqui podem ser um pouco desajeitadas, com bugs, hitbox que falham e por aí vai.

Mas até aqui há elementos bacanas! Os inimigos desavisados podem tropeçar nos corpos dos colegas, atirar no braço de adversários os incapacita de usar armas de duas mãos e por aí vai. O nivelamento como um todo também é bem satisfatório e há oponentes de leveis altos que requerem postergar a luta ou mergulhar de cabeça no mundo dos RPGs para encontrar a melhor estratégia, o que inclui os grandes chefões do jogo.

Além da experiência comum para desbloquear habilidades, persistir em um estilo também garante melhorias, similar ao que acontece em Skyrim. Quanto mais você jogar com armas, melhor serão suas habilidades com pistolas, rifles e muito mais. É realmente a experiência completa em RPG.

Isso sem contar as modificações cibernéticas, que vão além das armas. Há mais de dez partes do corpo para mexer. Que tal implantar um sensor ótico que mostra a quantidade de balas? Sabe os projéteis que ricocheteiam? Você só vai ver a trajetória deles se customizar o implante ótico. Com níveis altos (que só atingi depois de 50 horas de jogo), é possível ter pernas que oferecem pulo duplo, braços com lança-foguetes ou até as devastadoras lâminas de louva-deus.

Tiroteios, batalhas frenéticas de katanas, furtividade e exploração do cenário com hackeamentos: todos funcionam muito bem e podem ser combinados em perfeita harmonia. Por falar em hacking, é muito interessante utilizar o visor de V para avaliar inimigos e absolutamente todos os elementos do mapa que podem ser usados em sua vantagem, como holofotes para distrair inimigos, e até mesmo hackear os próprios adversários. Mas é claro que tudo depende dos implantes e da forma como você monta seu personagem.

E isso pode ser feito de várias maneiras no gameplay também. V tem cinco atributos: Corpo, Reflexos, Inteligência, Habilidade Técnica e Estilo, cada um provendo status diferentes. A grande sacada é que eles têm múltiplas árvores de habilidades (de duas a três por atributo) para aprimorar o personagem, desde recuperar a vida lentamente fora de combate até melhorar as habilidades de hacking.

O título traz uma abordagem de classes fluidas que mistura todos os atributos, as especialidades e os equipamentos possíveis para que se adequem ao gosto de quem joga. Comecei de forma mais genérica e, aos poucos, fui me aperfeiçoando em um Cyberninja, que usa mais reflexos e inteligência. Mas você pode optar por Pistoleiro Tecnológico, Brutamontes, ou qualquer outra variação se preferir.

Até mesmo nos níveis há formas distintas de ganhar experiência. Existe a experiência comum, a credibilidade de rua e a proficiência de atividades. A XP normal envolve o seu nível e distribuição de pontos, enquanto a credibilidade de rua permite pegar missões melhores e comprar

O jogo devia ser em terceira pessoa? Não! Se prepare para uma experiência cinematográfica de centenas de horas

"Mas por que Cyberpunk 2077 não é em terceira pessoa? Vou personalizar meu boneco e nunca vou ver?". Você pode ter ouvido bastante essa pergunta ou até ter sido a pessoa que a fez. Fique tranquilo: ser em primeira pessoa não só é o ideal para o estilo do game como também não vai ficar devendo em nada.

Você verá o personagem de diversas formas, no menu e durante as animações extremamente refinadas do game. Enquanto V está sentado, a câmera segue realisticamente as ações das mãos, as pernas cruzadas e coisas do tipo, em um nível de detalhe corporal similar a grandes games lineares em primeira pessoa, como Mirror's Edge e a franquia Call of Duty.

Por vezes e mais vezes não cansei de me espantar com o detalhamento de cada conversa, as ações do personagem na cena e níveis de elementos técnicos que assustam na qualidade, dado o escopo do game. E relaxa, você ainda vai ver muito o seu personagem no menu, nas cenas de direção de veículos e nos detalhes em primeira pessoa.

Esqueça aquele estilo genérico de animações que vemos em Fallout, The Outer Worlds e outros RPGs em primeira pessoa. Nada de animações toscas e ciclos de poses genéricas; tudo é muito orgânico e cinematográfico. E, parando para pensar na larga escala do jogo, é muito impressionante que a CD Projekt Red tenha dedicado tanto esforço aos detalhes. Então relaxe, pois optar pela perspectiva mais íntima foi a escolha certa, é a forma correta de nos imergir em Night City.

Night City, uma cidade que mistura The Witcher com o DNA de GTA

Não tem jeito: em jogos urbanos, a cidade é frequentemente um personagem mais importante que muitos NPCs, presente do começo ao fim como uma constante que constrói o clima e ajuda na imersão. Night City é uma megalópole que deve ser essencial para nos jogar de cabeça na atmosfera de Cyberpunk 2077.

Night City é realista, respira vida a cada esquina e é recheada de detalhes. O mapa é gigantesco, mas extremamente denso, com detalhes em toda a cidade e muita exploração vertical: diversos prédios têm andares a serem explorados e lá você pode achar atividades aleatórias do mundo, como sidequests ou acontecimentos da narrativa que o colocam em novas jornadas.


Parar em um beco, por exemplo, me rendeu uma atividade em que um homem estava com o pênis pegando fogo por ter colocado um implante ilegal. E, assim do nada, ganhei uma quest para levá-lo a um medicânico, os doutores do game. A parte mais bacana é que há uma narrativa legal e horas depois de terminar a quest, é possível receber uma ligação para saber o desfecho da história. Em outra explorada pela cidade, vi uma quest em uma lanchonete em que assaltantes tentavam aterrorizar o lugar – e como tudo no game, há diversas formas de resolver e sua construção de personagem importa muito.

Durante a exploração do mundo, você pode esbarrar com quests de forma não intencional e experimentar momentos muito divertidos

As pessoas realizam os mais diversos tipos de atividades, como exercícios físicos, basquete e abordagens policiais. Como em qualquer cidade gigantesca, a densidade populacional é absurdamente grande, e vemos todas as ruas lotadas. Há sempre um crime em andamento para deter, um psicopata para caçar, corridas para fazer e muito, muito mais.

Até as lojas de roupas, armas e implantes tem seu toque de glamour. Cada uma delas é diferente e vendem coisas diferentes. É preciso garimpar a cidade atrás dos melhores equipamentos.

Ver a cidade de cima nos presenteia com arranha-céus enorme e cheios de projeções holográficas, propagandas das mais variadas, indo de aprimoramentos cibernéticos a brinquedos sexuais. O mundo do game é abarrotado de anúncios, colaborando com a atmosfera de uma época e um lugar em que o consumismo é desenfreado.

A CD Projekt Red realmente se superou na atmosfera cyberpunk, e todos os elementos essenciais para montar o clima estão ali em Night City: muito neon, diversidade e coisas acontecendo ao mesmo tempo, de marginais a corporações dominando a megalópole. E tudo isso é apenas o centro urbano, já que ainda é possível explorar as Terras Baldias, um grande deserto com um tom bem diferente.

Cada bairro de Night City tem sua própria cultura, música e história por trás, enriquecendo a experiência de simplesmente andar pela megalópole. Indo a fundo, é possível notar que cada esquina foi detalhada com muito carinho e atenção. Cada distrito é dominado por uma gangue e empresa, algo que vai ficando evidente ao longo da jornada, das periferias aos prédios gigantescos de megacorporações.


Como você deve imaginar, não dá para rondar um local tão enorme a pé. Como seu "fiel companheiro" você tem diversos veículos, que funcionam bastante como Carpeado de The Witcher 3 em muitos aspectos. Você pode chamá-lo a qualquer momento e usá-lo para realizar suas atividades. É possível comprar motos e carros dos mais variados tipos e cada um deles tem uma ótima dirigibilidade (que também são bem distintas entre si).

Você pode roubar carros também se tiver o atributo necessário, mas eles não podem ser chamados a qualquer hora. Além disso, fazer atividades ilegais, como atirar, roubar, matar pessoas ou fazer atividades suspeitas, garante nível de procurado, igual em Grand Theft Auto. Contudo, por mais que o DNA de GTA esteja presente, o game não é um sandbox.

Cyberpunk 2077 ainda é um RPG. Não espere por minigames, grandes interações na cidade e coisas do tipo. O foco ainda é a história e as sidequests. Isso não é de forma alguma ruim, mas é bom maneirar as expectativas.

É o fim? Zere da maneira que achar melhor

Há algumas coisas que podem assustar os jogadores em Cyberpunk 2077. A primeira é que a introdução tem cerca de nove horas de gameplay, então não estranhe ver a cidade mais vazia e sem sidequests no começo. E a segunda é que você pode zerar o game bem mais rápido do que o esperado.

Contudo, não há motivo para alardes. Há diversas formas de terminar o game, incluindo sem fazer a missão principal, segundo o diretor do jogo. A primeira oportunidade de zerar apareceu para mim depois de 40 horas, mas prossegui na exploração do mundo para desbloquear outros finais. Até o momento, com mais de 70 horas, apenas o inicial está disponível e preciso progredir muitas outras dezenas de horas para ver desfechos diferentes.

Repare na progressão das quests principais

Apesar de haver um indicador no menu principal e um aviso de não ter retorno quando chegar a hora, é sempre opcional zerar ou não Cyberpunk 2077. A escolha é sua.

Uma das melhores dublagens em PT-BR já feitas

Se você acha que a dublagem de The Witcher 3 era boa, pode esperar para se surpreender em Cyberpunk 2077. Absolutamente tudo foi dublado e localizado com maestria. Personagens falam palavrão à rodo, tudo com naturalidade e linguajar do dia a dia. Sabe aquela dublagem épica de Yu Yu Hakushou? Espere por algo além disso. O elenco é de primeira e a atuação é simplesmente perfeita.

"Acho que tem caroço nesse angu", V - Cyberpunk 2077

Até o nome das missões foram brilhantemente traduzidas. Em inglês, todas as quests são nomeadas em homenagem a músicas famosas, como Riders on the Storm, For Whom the Bell Tolls e por aí vai. Em português, você vai ver coisas como Polícia Para Quem Precisa, Vou de Táxi, Festa Estranha com Gente Esquisita e muito mais.


Com a cereja no bolo, a CD Projekt Red se aliou à Jali, que tem uma tecnologia muito inovadora: a sincronizar diálogos em qualquer língua aos movimentos faciais e dos lábios dos personagens. Em outras palavras, é quase como se o jogo fosse feito originalmente em português e isso pode ser visto desde NPCs nas ruas até personagens importantes. Não é perfeito, mas beira a perfeição.

Visuais de cair o queixo – se você tiver bala na agulha

Se tem algo que é inegável em Cyberpunk 2077 é a qualidade dos gráficos. Não há nada relativo por aqui, e os visuais são indiscutivelmente estonteantes. Mesmo jogando através de plataformas de streaming, é notável que esse é um dos games mais bonitos da geração. E talvez um pouco mais.

Joguei no PC com uma RTX 2080 Ti, com gráficos no Ultra, Ray Tracing no Ultra e DLSS no Modo Desempenho em 1440p para tentar rodar tudo em 60 fps. O resultado é fenomenal, com um dos mundos abertos mais bonitos já feitos, extremamente recheado de detalhes. E, sem dúvidas, temos a implementação mais ambiciosa de Ray Tracing até o momento.



Outros elementos, como a falta de um “transmog”, ou seja, usar a aparência de qualquer equipamento nas roupas, me incomodou um pouco. Por escolher Marginal de Caminho de Vida, Visual Acima de Substância é o lema que tomei para o meu personagem, mas diversas vezes tive que usar equipamentos sem coerência visual alguma me incomodou. O sistema de acessórios nas roupas também é esquisito: só é possível equipar uma única vez em cada peça do corpo e, para alterar, é necessário destruir o anterior.

O menu e mapa da cidade também podem ser confusos em um primeiro momento, mas nada que o uso extensivo durante o gameplay não resolva a estranheza.


Vale a pena?

Cyberpunk 2077 é um espetáculo em todos os sentidos. O game não é revolucionário, mas também não precisa ser: ele pega tudo que há de melhor nos gêneros da atualidade e os refina quase à perfeição. Imersão e liberdade são palavras-chave que contemplam a experiência que você terá ao mergulhar de cabeça em Night City e percorrer becos e ruas da cidade.

Certamente, esse é o nível mais avançado e complexo que a tecnologia permite em simular um RPG de mesa com ação e interação com características realistas. Agradando fãs do estilo e jogadores mais casuais, avançar pela história por 13 ou 14 horas seguidas faz parecer horas virarem minutos, pois você não vê o tempo passar quando está tão engajado. Esse é o resultado de uma qualidade altíssima.

Não dá para relevar que há bugs e coisas que pessoalmente não gostei tanto, mas eles estão muito longe de estragar a experiência. Na verdade, as qualidades se excedem tanto que é difícil observar defeitos. Se você esperava um RPG gigantesco capaz de te prender por dezenas ou centenas de horas e te incentivar a recomeçar tudo de novo para aproveitar o fator replay gigantesco, bem-vindo a Night City.

Pontos positivos

  • Sistema extremamente denso e recheado de camadas em um RPG ambicioso
  • Liberdade e imersão fazem parte do game do começo ao fim
  • Diversas linhas narrativas para cada missão do jogo
  • Fator replay altíssimo, já que diversas missões podem acabar diferentes (e oferecer impactos distintos a longo prazo)
  • Múltiplas abordagens em cada quest, oferecendo recompensas para quem usufrui melhor a construção de personagem
  • Combate de longa distância excelente, incluindo cobertura em primeira pessoa e diversos tipos de armas
  • Nível de customização muito absurdo, indo das coisas mais superficiais às mais profundas
  • História de primeira que toca muitos temas interessantes
  • Mundo aberto muito vivo para os padrões de um RPG
  • Boa dirigibilidade dos veículos, que são distintos entre si
  • Diversas formas de zerar o jogo
  • Dublagem e sincronia labiais impecáveis
  • Um dos melhores visuais da geração e a implementação de Ray Tracing mais ambiciosa até o momento

Pontos negativos

  • Muitos bugs e crashes
  • A personalização de aparência não anda em conjunto com a funcionalidade das armaduras
  • Combate corpo a corpo tem muitos elementos bagunçados

Cyberpunk 2077 não revoluciona nada, mas aprimora tudo que já vimos e traz uma experiência com mais de uma centena de horas e muita imersão.

Nota: 100

Cyberpunk 2077 foi gentilmente cedido pela CD Projekt Red para a realização desta análise.

 

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Fonte: TecMundo
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