Qual o melhor em custo beneficio? Xbox Cloud Gaming, GeForce Now ou ter seu PC Gamer

O custo para montar um PC está em um de seus piores momentos. Com placas de entrada pagando o preço de consoles inteiros, ficamos em um cenário ideal para outra alternativa ter a chance de brilhar: os jogos na Nuvem. Será que vale a pena abandonar a compra de hardware próprio e se lançar no gameplay por stream?


Vamos investigar três possibilidades. Do lado dos PC Gamers, decidimos usar um computador de entrada como comparação, com aquela configuração que recomendamos: um Core i3-10100F combinado com um GeForce GTX 1650 e 16 GB de RAM.

 

Para a Nuvem, vamos testar os "um serviço e meio" disponíveis. O um é o Xbox Cloud Gaming, já disponível para qualquer um que assine o Game Pass Ultimate, serviço de assinatura de games da Microsoft. O "meio" é o GeForce Now. O serviço já está operando no Brasil através da Abya, mas de um jeito meio estranho: a versão gratuita é operacional, mas a versão paga está simplesmente indisponível há meses, desde a sobrecarga inicial do lançamento no país.

Vamos usar quatro critérios: os games disponíveis, o custo, a praticidade e, por fim, a qualidade do gameplay. Então, partiu para nosso comparativo!

 

Games disponíveis

Uma plataforma é tão boa quanto os jogos que ela tem disponíveis

No Xbox Cloud Gaming, há um catálogo de games, que não à toa é o mesmo do Game Pass. No momento que esse post é escrito, isso compreende 451 títulos, sendo vários deles muito relevantes, como games first party da Microsoft e lançamentos de peso de empresas como EA, Ubisoft e Bethesda.

É uma biblioteca respeitável que só tem alguns pontos cegos como exclusivos de rivais como Sony e Nintendo, além de alguns Esports e games bastante relevantes para os computadores, como CSGO, LOL e DoTA 2.  Além disso, alguns lançamentos acabam ficando de fora, como está acontecendo com o Lost Ark. Também excluímos títulos como Call of Duty: Warzone e outros da Activision/Blizzard, que até estão disponíveis via EA Access, mas aí você precisa de seu hardware.

No GeForce Now, o jogador não recebe os games. Ele pode jogar títulos que estão disponíveis na sua conta da Epic, Steam, Ubisoft Connect e na plataforma da EA. Ficam de fora games da Activision Blizzard, como COD:Warzone, mas dessa vez temos acesso a games como CS:GO, LOL e DoTA 2.

 

No PC, temos claramente o grande vencedor dessa disputa comparativa. Ele tem todo o catálogo listado em ambas as plataformas anteriores, e mais todas as exceções listadas. Com a Sony lançando vários de seus títulos no PC e até games exclusivos de Nintendo Switch disponíveis para as máquinas, como o Monster Hunter Rise, são poucos exclusivos da Nintendo que não chegam aos computadores, além de alguns títulos para Playstation - que não veríamos nas duas plataformas na Nuvem, mas que podem chegar posteriormente ao PC. 

 

Custo

PC Gamer de entrada

Desde o início da pandemia e o período de baixa disponibilidade de chips que estamos vivendo, montar um computador pra jogar se tornou um sério desafio. Focando em um computador com um bom nível de qualidade para jogos, mas também com baixo custo, começaríamos com:

- Intel Core i3-10100F - R$ 650
- 2x8GB DDR4  @2666MHz - 2x R$ 209
- Asus Prime H410M - R$ 399
- Kingston NV1 500TB - R$ 384 
- Galax GeForce GTX 1650 GDDR6 1-Click OC - R$ 1.999
- Fonte Cooler Master V550 MWE - R$ 229

Com essa configuração, temos um custo total R$ 4.079.

 

Xbox Cloud

O serviço na Nuvem da Microsoft funciona em um modelo de assinatura. Ele fica disponível com a compra do nível mais alto do Game Pass, o Ultimate, com custo atual de R$ 45 e com possibilidade de bons descontos nas primeiras mensalidades. Como está dentro do Game Pass, o custo inclui tanto o acesso ao gameplay na Nuvem, quanto a biblioteca de games.

Custo total: R$ 44,99 / mês.

 

GeForce Now

O GeForce Now, por sua vez, se encontra em uma situação estranha, como já comentamos. Ele está disponível no Brasil através da Abya, mas faz meses suas opções pagas estão indisponíveis. Felizmente, é possível jogar de forma gratuita, com o efeito colateral de estar limitado a uma qualidade gráfica menor e também potenciais filas para o seu gameplay. Outro ponto é que o GeForce Now não "te dá" games, então a experiência também depende dos títulos que você já possui ou irá adquirir nas lojas de aplicativos como Epic Store, Steam e Ubisoft Connect.

Custo total: Plano gratuito com limites disponível + Plano com mensalidade atualmente indisponível no Brasil.

 

Nessa categoria, temos uma comparação interessante entre o GeForce Now e o Xbox Cloud Gaming em termos de preço. Por um lado, o custo é zero para começar a jogar na plataforma da Nvidia, inclusive com vários games gratuitos para jogar, mas é preciso fazer a compra de jogos nas plataformas parceiras se você quiser algo a mais. Do outro lado, o Xbox Cloud Gaming tem o custo da assinatura mensal, mas já adiciona nesse valor uma biblioteca respeitável de títulos, que sairia por um preço mais salgado caso o jogador fosse comprar jogo a jogo.

O PC, por lógica simples, é espancado nessa comparação. Só em hardware temos quase uma década de Xbox Game Pass Ultimate paga e ainda nem começamos a comprar os jogos. Se formos falar do GeForce Now e você dividir os R$ 4000 de custo do hardware pelo zero de jogar F2P (Free-toPlay) e se limitar ao plano gratuito do serviço, sua calculadora vai dar erro meses. No máximo, você vai estar gastando tempo da sua vida esperando na fila para entrar no game.

 

Praticidade

Aqui temos uma clara vantagem para os serviços na Nuvem. Com praticamente qualquer dispositivo conseguindo rodar os serviços GeForce Now e Xbox Cloud Gaming - desde computadores, smartphones, tablets e até alguns televisores - as possibilidades de jogar em praticamente qualquer lugar (com um bom nível de conectividade) tornam a Nuvem imbatível. Não precisar instalar os games, atualizar drivers ou fazer qualquer nível de manutenção nos componentes do computador que está renderizando o game também é um bônus interessante.

Mas há pontos a favor do computador. Hardware local é bem menos vulnerável a oscilações de rede e, ao longo dos testes, tivemos alguns momentos em que tanto o XCloud quanto o GeForce Now reduziram a qualidade gráfica ou apresentaram uma latência ruim.

 

Qualidade do gameplay

 

Aqui chegamos na parte mais profunda da nossa análise.

Jogar localmente e na Nuvem trazem um conjunto de experiências bem diferentes. Falando em poder gráfico, nosso computador está limitado a uma placa de vídeo de entrada, enquanto GeForce Now e Xbox Cloud Gaming tem servidores muito mais robustos. Porém, ter o PC que processa seu gameplay ao seu lado traz benefícios bastante relevantes.

Usamos dois games com características bem diferentes para nossas referências. Um é Control, com gráficos avançados e foco na experiência single-player. O outro é Rainbow Six Siege, um game competitivo multijogador.

 

Começando pelos gráficos, a verdade é que vimos uma grande oscilação nos resultados. Isso acontece por conta das variações na qualidade da conexão, tanto na nossa ponta quanto na do servidor dos serviços. Aqui é um momento relevante para especificarmos a internet em nossos testes: usamos uma conexão provida pela operadora Algar Telecom. Temos um link de 600MB/s, mas com as limitações da placa de rede do computador que usamos nos testes, recebemos 296MB/s de download, 266MB/s de upload e ping de 10ms. Em um teste no site speedtest.net, Isso é literalmente dezenas de vezes mais rápido que a especificação mínima sugerida tanto pelo GeForce Now (15MB/s) quanto pelo Xbox Cloud Gaming (10MB/s), sendo que o serviço da Nvidia diz ser jogável com latência até 80ms. 

 

Control

Começando por Control, a GTX 1650 do nosso PC não consegue rodar o game com folga, mas foi possível fazer o ajuste pela qualidade Alta, reduzindo o MSAA (Multisample Anti-Aliasing) para 2x e travando o gameplay em 30fps. O resultado é uma jogabilidade bem estável, com raras quedas de desempenho que podem ser compensadas com ajustes melhores em alguns filtros.

Por algum motivo, o game ficou bastante desfocado no Xbox Cloud Gaming, resultando em um aspecto bem inferior ao do nosso PC de entrada. E, por fim, o GeForce Now entregou um resultado mais positivo, ainda que a compressão causasse um efeito de menor nitidez. Mesmo considerando a compressão de rede, o resultado é mais próximo do experimentado no PC in loco.

Game rodando localmente no PC
Game rodando via Xbox Cloud Gaming
Game rodando via GeForce Now


Sobre fluidez, como já comentamos, o PC precisou rodar a 30fps para atingir estabilidade no gameplay. O Xbox Cloud Gaming também rodou nessa taxa de quadros. Já o GeForce Now parece ser o claro vencedor, não apenas por manter um gameplay a 60fps, mas também trazendo a possibilidade de ligar o Ray Tracing em seus planos pagos, abrindo espaço para aumentar a diferença dos gráficos em favor do gameplay na Nuvem.

 

Rainbow Six Siege

Olhando para games competitivos, o jogo vira. Primeiro porque esse é um tipo de jogo com muito mais movimentação, algo que dificulta consideravelmente o serviço de compressão de vídeo. Mas, em geral, o streaming se saiu bem.

Rainbow Six Siege rodando no Xbox Cloud Gaming
Rainbow Six Siege rodando no PC Baratinho
Rainbow Six Siege rodando no GeForce Now

 

Porém, nesse comparativo temos um belo exemplo de um dos principais empecilhos pra jogar na Nuvem: a qualidade da conexão. Durante nossos testes, o GeForce Now apresentou uma grande perda de performance, forçando uma renderização muito piorada da imagem. Não tem como saber se a instabilidade foi na ponta do servidor da Abya ou aqui, mas o que dá pra saber é que a latência subiu sensivelmente, e a visibilidade do game "foi pro saco".

GeForce Now apresentando problemas de estabilidade

Mas além da estabilidade, a performance é a grande diferença para a experiência no PC local. Ambos os serviços na Nuvem travam o gameplay a 60fps. Curiosamente, o GeForce Now apresentou pulos para 120fps na renderização, segundo o que o próprio jogo reporta em seu overlay, mas a transmissão se mantém em 60fps. Inclusive, isso causou alguns stutterings, e a experiência ficou melhor com o V-Sync habilitado. Ah, e sim: no GeForce Now você consegue fazer ajustes gráficos, o que é bem curioso.

E o que falar do PC Baratinho? Games competitivos são leves, porque normalmente estão mirando altas taxas de quadros, e nossa configuração alcança 120fps+ sem dificuldades. O resultado é uma experiência muito mais fluida, já que fizemos o teste em um monitor Aorus AD27QD, com suporte a 120hz e com capacidade de aproveitar muito bem essa taxa superior de quadros.

Mas em games na Nuvem essa questão de latência é ainda mais crítica, já que temos toda uma comunicação entre o cliente e o servidor que também adiciona atraso. Fizemos alguns testes para comparar a diferença no tempo de resposta aos comandos, medindo o tempo entre clicar o botão de tiro e ver o disparo acontecendo na tela, e temos um abismo separando a experiência de uma máquina local versus jogar via servidor remoto. 

Entre o momento de clicar e o personagem começar a atirar, temos uma resposta praticamente instantânea com o PC rodando local, trazendo uma sensação de responsividade e controle do jogo. O Geforce Now entrega a resposta ao comando em 60ms, tempo que torna perceptível o atraso - em um gameplay a 60fps, por exemplo, você vai ter 4 ou 5 quadros de atraso entre o clique e a ação. Apesar disso, foi possível jogar de forma confortável até mesmo com teclado e mouse em nosso testes (quando a conectividade não oscilou). O Xbox Cloud Gaming adiciona mais um quadro de atraso, mas isso é bem difícil de perceber quando você está jogando em um controle, que, em geral, ajuda a reduzir a sensação de delay em um gameplay.

E falando em controle, aqui temos uma limitação até que grande do Xbox Cloud Gaming: ele é o único que não aceita o uso de teclado e mouse, forçando o uso de um joystick. Chegamos a usar uma extensão para o Chrome que faz uma gambiarra pra colocar teclado e mouse na plataforma de streaming da Microsoft, e posso definir a experiência como um sonoro NÃOOOOOOOO. Em Control, isso não faz tanta diferença, mas em Rainbow Six Siege, bem como em vários FPS e RTS, jogar no controle é uma simples negação.

 

Conclusão

O elemento principal que separa o streaming de aniquilar o hardware local é o conjunto de limitações técnicas, sendo a mais crucial delas a latência, além da compressão de imagem. Com os servidores de games instalados no Brasil, começamos a ver a redução nesse efeito colateral de jogar seus games remotamente. Mas a verdade é que eles não chegaram lá, e nem sabemos se vão chegar algum dia.

Por enquanto, o streaming de games não vai matar o seu PC

Serviços como Geforce Now e Xbox Cloud Gaming estão conseguindo entregar uma experiência competente em 30 e até 60 quadros, mas a preferência dos gamers mais frequentes já migrou para algo bem mais exigente que isso, com latências ultrabaixas e frequências de atualização mais altas, tanto porque aumentam a chance de ganhar uma partida competitiva quanto porque é melhor de jogar dessa forma.

 

Mas tem um elemento que, em contrapartida, tanto o GeForce Now quanto o Xbox Cloud Gaming atropelam o PC: a comodidade. Pegar praticamente qualquer dispositivo, seja celular, tablet ou aquele seu PC velho e sair jogando é muito interessante e inclusive são alguns dos cenários em que o streaming se sai melhor. Graças a tela menor do smartphone, combinado ao uso de um controle, temos os dois defeitos principais do Xbox Cloud Gaming (latência e compressão da imagem) bastante minimizados. Até dá pra fazer seu próprio servidor pra jogar remotamente com seu PC, mas isso é assunto pra outro artigo.

 

Ainda tenho a sensação que o Xbox Cloud Gaming e especialmente o GeForce Now atuam melhor como complementos da experiência de quem já tem um sistema pra jogar, mas eventualmente está longe da sua máquina local. Aí o streaming serve para dar acesso a games quando você está em deslocamento. Também pode servir para quem está começando a entrar no mundo dos games, mas, sinceramente, acredito que mesmo um jogador mais casual que comece a jogar com uma certa regularidade deve cogitar um PC gamer de entrada - ou melhor ainda, um Xbox Series S.

 

Fonte:
Adrenaline

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